REPÓRTERES DE GUERRA

2010 / 1h 46min / 

DramaAdaptação

Direção: Steven Silver

Elenco:                Taylor Kitsch(Kevin Carter), Ryan Phillippe(Greg Marinovich),

Malin Åkerman(Robin Comley), Neels Van Jaarsveld(João Silva)

Nacionalidade EUA

SINOPSE E DETALHES

Um grupo de jovens repórteres tem a difícil tarefa de cobrir as primeiras eleições na África do Sul após o Apartheid. Além de sofrerem riscos físicos, eles presenciam a miséria e o descaso de perto.

ATENÇÃO: A RESENHA CONTÉM SPOILER!!!

Contextualizando , estamos na África do Sul, num período de transição entre o fim do terrível regime do Apartheid e as eleições. Existe um sangrento conflito étnico entre dois partidos :   Congresso Nacional Africano (ANC) ( partido de Mandela ) e Partido da Liberdade Inkatha (IFP) de etnia Zulu.

Tragicamente resumindo, integrantes do anc e ifp se matam pelas ruas com facões , metralhadoras , ou qualquer coisa que possa ser usado como arma , a policia branca mata todos pela cor da pele, e neste caos de cenas de guerra , existe o jornalismo , querendo reportar os fatos, que é o que eu avaliarei.

Ken e Kevin são fotógrafos de um jornal impresso local  , João é um repórter freelance. São amigos , além de fotorepórteres , e saem todo dia a caça de imagens dessa balburdia . Um jovem freelancer Greg aproxima-se deles, começa a partir a caça em conjunto, e pronto está formado o que foi nominado de Bang Bang Club , titulo a inicio recusado pelo grupo, mas que depois eles acabaram assumindo.

Ken , é centrado , mostrado como um líder do grupo. Kevin é um drogado que também tem um programa em uma rádio a noite , João é visto como determinado e um temperamento explosivo , e Greg é um jovem em busca de seu lugar, que acaba vendendo fotos para o jornal onde Ken trabalha , que são usadas pela jornalista Robin  numa matéria, jornalista essa que é conquistada por Greg.

Com os 3 casais , mais Kevin e suas várias parceiras, são mostradas várias festas, churrascos e comemorações diárias em bares  como sendo um fim de expediente após tiros, mortes, corpos em meio ao lixo , aflição e miséria de um povo serem clicados durante o dia.

Após uma sessão  do grupo ,que souberam que 2000  Inkathas estavam indo ao encontro dos inimigos da CNA , vários clicks de tiros, mutilações com facões, a chegada dos blindados representantes da “lei e da ordem” metralhando , o grupo encontra-se na sua happy hour , onde são mostradas belas mulheres, bebidas, um banda tocando blues, todos se arranjando com lindas loiras de olhos azuis…(confesso que uma certa nostalgia me ataca ) , Ken , o chefe , apresenta Greg a um famoso fotógrafo negro,Alf Khumalo ,  congratulam-se, mas seu parceiro, também negro , lança o comentário : Mais um branco fazendo dinheiro em cima do sangue negro ?

Ken e Greg afastam-se, Greg questiona Ken sobre o comentário do parceiro de Alf, e vem a fala de Ken : “Ele é um fotógrafo negro, tudo é mais difícil para ele. Se fotografa alguém da CNA, os Zulus dizem que é um deles e vão querer matá-los.Se fotografar um Zulu, os da CNA vão querer mata-lo , Enfim, não tem escolha. Você é Branco, pode ira a qualquer lugar. Aproveite. Fim da aula, vamos beber. “  em seguida uma loira aproxima-se pergunta se ele é Ken Ooestroberk , e retribui ao sim da resposta com um caloroso beijo.

Pausa. A atmosfera feliz das loiras,bebidas,blues e etc se esvai. Minha nostalgia se evapora instantaneamente, e o dilema passa a tomar conta dos meus pensamentos:

Mesmo amando sua profissão, como deixar que um conflito racial estúpido, mortes hediondas, sentir o ódio de um parceiro de profissão por sua cor de pele ser diferente, não afete seu humor , manter a frieza , sorver uma bebida , acalentar-se nas curvas de uma loira  e saber que a defesa de seu dinheiro estará no sangue de um negro no próximo dia de trabalho?

Após o momento de reflexão, vamos ao momento que transforma a vida de Greg.

Durante outra sessão de fotos , Greg percebe ao longe um grupo arrastando uma pessoa. Corre ao encontro deles , vários homens arrastando apenas um . Começam a agredir este com golpes de mãos e facão, Greg discute com os agressores, é ameaçado, mas não para de fotografar.. com tanta proximidade da cena, tentam também agredi-lo..ele se esquiva.. com um golpe o home cai deitado. Despejam algum tipo de combustível no homem e ateiam fogo…o homem sai correndo em chamas e Greg atrás dele, e enquanto Greg o está clicando , um outro homem se aproxima e desfere o golpe fatal com seu facão, gerando a foto abaixo :

FOTO DE GREG MARINOVICH

Ao apresentar a foto à editora de imagens do jornal “ The Stars “  e também sua namorada Robin , esta diz que a foto é maravilhosa, mas eles não podem publicar, por ser realista demais….em paralelo seus amigos enviam a foto à AP (Associated Press ) e ela finalmente atinge o seu objetivo, estampar a capa de jornais pelo mundo todo , chamando a atenção para o nefasto conflito que está acontecendo em seu país. A foto é premiada com o Pulitzer , e o Bang Bang Club comemora.

            Antes do prêmio porém , a policia local o procura na redação do The Stars , dizendo que ele testemunhou um crime e precisa depor para identificar os agressores. Só relembrando que essa mesma policia/governo apóia  extraoficialmente o partido ao qual  supõe-se que a vitima pertencia, e seria conveniente divulgar isso como um assassinato por parte da CNA , que o próprio governo trabalha muito para desestabilizar. Greg não quer se apresentar, por não querer tomar partido , e Ken comenta que ele não pode mesmo , pois todo o grupo seria rotulado como partidários dos Zulus , e consequentemente alvo da CNA. Resolvem que o melhor seria Greg sumir por uns tempos, e é o que ele faz, deslocando-se para o interior, fazendo belíssimos ensaios que reproduzem as pessoas e cultura local, sequência que me passou muita paz..; até que Ken informa à Robin para chama-lo de volta , pois a foto havia ganho o Pulitzer, e ele tornando-se famoso receberia um escudo protetor contra o assédio da policia local.

            Outra pausa para reflexão : No exercício de sua profissão, o jornal  para o qual você colabora diariamente não tem coragem de utilizar o fruto do seu trabalho, despreza seu feito. Seu governo quer usar o fruto do seu trabalho para compromete-lo , enquanto isso você é reconhecido mundialmente pela sua foto, estampa a primeira página de jornais importantes do mundo todo , e culmina com o vencimento do Pulitzer!

            Qual a motivação para , após receber o prêmio em Nova York, voltar ao dia a dia desse caos ?

            Durante seu “sumiço “ suas fotos sobre as pessoas e sua cultura me passaram a imagem de muita paz e beleza pela suas cores…. Porque paz e cultura não desperta  um mínimo do  interesse jornalístico  que uma gota de sangue produz?

            Voltando ao nosso grupo, o Pulitzer tornou os quatro fotógrafos famosos , e num preparo de uma matéria sobre eles, u jornalista resolve nomeá-los como Bang Bang Club.  Seguem com seus trabalhos até que Kevin , a caminho de uma cobertura de Mandela , bate o carro num poste, e é preso porque encontram drogas no automóvel o que o leva também a ser demitido do jornal.

            Ajudado por Greg e Ken , ele parte para o Sudão em companhia de João Silva , em busca de fotos. Num árido descampado próximo a um lugar onde se distribui comida aos necessitados , Kevin visualiza uma criança agachada , e um urubu a olhando , com o mesmo olhar de um faminto a um churrasco, e ele efetua vários cliques, gerando esta foto abaixo :

FOTO DE KEVIN CARTER

            Na volta do Sudão, Greg diz a João que o New York Times ligou , e pergunta a João se tem algum material que possa ser aproveitado….a foto é enviada , escolhida para a capa do New York Times na matéria sobre a fome do Sudão , e mais um Pulitzer para o Bang Bang Club.

            Infelizmente, o impacto  dessa foto causa um questionamento  a Kevin. Durante entrevistas , é perguntado se ajudou a criança, de afastou o Urubu , sobre o que fez para ajudar. Enfim o impacto da foto ganhadora do Pulitzer, amenizado pela repercussão sobre o que o fotógrafo poderia ter feito para ajudar .

            Enfim , agora o Bang Bang Club tem 2 Pulitzer´s . As eleições aproximam-se , uma Força de Paz é criada, com um total despreparo, então juntam-se a CNA, o Inkatha uma força de Paz armada e despreparada , e obviamente o Big Bang Club.

            Durante a cobertura , balas da própria força de paz , acabam atingindo Ken e Greg, . Ken teve menos sorte , e faleceu.

            Kevin , muito abalado pela perda do companheiro e pelos problemas com droga , comete o suicídio. Fim do Bang Bang Club.

            Greg Marinovich e João Silva escreveram o livro The Bang Bang Club , no qual o filme foi baseado. Ambos já declararam que o filme é baseado no livro, que nem tudo representa exatamente a realidade, mas mesmo assim , considero uma excelente história e acredito que podemos aprender muito , principalmente sobre fotos para reportagens.

            Mensagens finais falam sobre a vida dos dois, e fui pesquisar sobre isso para atualizar:

            Greg Marinovich também trabalhou como freelance com a Associated Press, Sygma, The European, Time, Newsweek, The New York Times e entre outros. Fez a cobertura de conflitos na Bósnia, Chechênia, Índia, Rússia, Ruanda, Israel e Palestina.

Suas investigações premiadas de 2012 sobre o massacre de mineiros de Marikana pela polícia foram consideradas o mais importante jornalismo sul-africano pós-apartheid.

Foi  editor-chefe do projeto Twenty Ten, orientando e gerenciando o trabalho de mais de 100 jornalistas africanos em todas as formas de mídia. Ele dá palestras e workshops sobre direitos humanos, fotografia de justiça e narrativas de histórias. Atualmente ensina jornalismo visual na escola de jornalismo da Boston University e na escola de verão de Harvard.

Mais trabalhos do fotógrafo de guerra,  e informações você encontra na sua página oficial https://gregmarinovich.photoshelter.com/

”Pisamos em cadáveres, metafórica e literalmente, e fizemos disso nosso ganha-pão. Mas nunca matamos ninguém. Acredito que salvamos algumas vidas. E talvez nossas fotos fizeram alguma diferença’, Greg Marinovich..

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João Silva ,     Trabalhou  na África, nos Balcãs, na Ásia Central, Rússia , e no Oriente Médio. 

Em 23 de  outubro de 2010, Silva pisou em uma mina terrestre enquanto em patrulha com soldados dos EUA em Kandahar , Afeganistão e perdeu a perna esquerda abaixo do joelho, e sua perna direita a partir de apenas acima dela.

Mais de 70 operações depois , voltou a trabalhar ,  como fotógrafo do New York Times para a África.

Perguntado sobre a foto premiada ,  de Kevin Carter , chamada de a menina e o abutre, que perseguiu o fotógrafo por acusações de falta de humanidade, e muitos diziam que ele era o abutre da foto, respondeu :

“Ele foi muito criticado por essa imagem. Pessoas que não tinham lugar em criticá-lo – pessoas que não tinham compreensão da dinâmica que levou para fazer essa imagem. … Em última análise, essa imagem era uma forte mensagem tal da fome. De repente, houve este afluxo de dinheiro que saiu do nada. Ele salvou mais vidas, tomando essa imagem do que ele teria por não tirar a foto.”   

                                                               João Silva

Duas últimas curiosidades fara finalizar :

  1. a criança da foto com o Abutre, na realidade , um menino Kong Nyong que foi dado como morto por muitos sobreviveu , e viveu mais 13 anos. 
  2. Em minhas buscas sobre Greg Marinovich , encontrei um trabalho de uma foca à época, aluna de jornalismo da FIAM , sobre o filme. Esta aluna teve a idéia de incluir uma entrevista com o próprio Greg em seu trabalho, e conseguiu!!!!!

Achei fantástica a idéia , além de um incentivo aos alunos de jornalismo para que não se limitem, saia da caixa , e transformem idéias em realidades.

Segue o link  dos bastidores do trabalho : http://www.casadosfocas.com.br/minha-primeira-entrevista-internacional/#

E o link do resultado :

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